Monday, October 10, 2005

Manifesto sobre relações humanas

Eu sinto que é aceitável que duas pessoas não estejam dando nada uma à outra além de respeito humano básico. Afinal, este é o ponto inicial de qualquer relacionamento, quando as pessoas se conhecem. A partir daí, elas começam a dar coisas uma à outra. Eu não acredito que, uma vez que você comece a me dar algo, que há alguma coisa específica que você deva me dar. Você dá o que você tem e o que você tem vontade de dar, sem esperar ou exigir nada de volta. Eu recebo aquilo e dou de volta o que tenho vontade de dar. Se uma pessoa sente que está dando demais, ela pode dar menos, ou ela pode sentir que está dando muito pouco e resolver dar mais. Eu sinto que a decisão sobre o quê dar é de quem dá.

Eu sinto que isso não exclui a noção de compromisso. Eu acredito que uma pessoa é livre para se comprometer com algo, ou para fazer uma promessa ou buscar um meio-termo, e que não é bom quebrá-los. Porém, eu não sinto que uma pessoa deva fazer alguma promessa em particular, ou se comprometer com alguma coisa em particular.

Quando uma pessoa precisa de algo que ela não está recebendo, eu sinto que é aceitável ela comunicar essa necessidade e pedir por aquilo. Eu sinto que é aceitável comunicar e pedir, mas não exigir. A outra pessoa pode escolher dar aquilo ou não, dependendo de suas próprias necessidades. Eu sinto que não é aceitável reagir de forma agressiva a um pedido negado, já que fazê-lo significa que ele não foi realmente um pedido, mas uma exigência. Eu acredito porém que é aceitável agir em consequência de um pedido negado. Se eu peço por algo de que necessito e não estou recebendo, e aquilo me é negado, é minha responsabilidade ajustar-me de acordo, de forma a sentir-me mais confortável. Isso pode até significar dar menos ou manter uma distância maior, o que não sinto ser uma reação negativa se for de fato um ajuste ao invés de punição ou vingança.

Eu sinto que encontrar meio-termos cabe neste esquema de coisas quando uma pessoa, ao saber da necessidade da outra, acha que vale a pena reconsiderar e procurar meios de satisfazer aquela necessidade. Isso pode levá-la a mudar algo (talvez atingindo um meio-termo) ou não. Ou seja, eu sinto que buscar um meio-termo tem seu lugar, mas eu não sinto que ele deva ser exigido em toda situação.

Eu sinto que é aceitável dar coisas diferentes a diferentes pessoas, e mesmo mais a algumas do que a outras, já que cada relacionamento tem sua própria dinâmica e história. Eu sinto que mesmo que eu receba menos do que é dado a outra pessoa, o que me é dado ainda é valioso, genuíno e a ser apreciado. Eu não sinto ser aceitável exigir algo de alguém porque essa pessoa deu este algo a uma outra pessoa, porque eu não sinto que exigências são aceitáveis. Porém, eu sinto ser aceitável comunicar a necessidade por algo dado a uma outra pessoa, embora eu sinta que, normalmente, este é um sinal de competição ao invés de uma necessidade real.

Eu sinto que não é aceitável omitir informações significativas. Para decidir o que é significativo ou não, eu sinto que é aceitável adotar as normas culturais usuais, embora preferências pessoais possam ser declaradas mais explicitamente e ir mesmo contra as normas culturais. Eu acredito que se algo é significativo o suficiente para mim de forma a me levar a começar uma discussão a respeito no futuro, então é minha responsabilidade comunicar isso à outra pessoa, ao invés de esperar que ela saiba disso de alguma maneira.

Eu sinto que é aceitável sentir qualquer coisa. Consequentemente, eu sinto que não é aceitável criticar sentimentos. Porém, eu sinto que falar a respeito destes sentimentos de forma respeitosa é uma boa coisa.

Eu acredito que é aceitável perguntar qualquer coisa, não é aceitável dar respostas falsas a perguntas, mas também aceitável escolher não responder a uma pergunta. Eu sinto que é aceitável agir em consequência de tal recusa, mas como uma forma de ajuste e auto-preservação, e não como punição.

Eu acredito que é aceitável discordar sobre algo, embora eu também sinta que é aceitável agir em consequência disso, novamente como ajuste e não punição.

Eu sinto que agressão, humilhação, sarcasmo e ridicularização nunca são aceitáveis. Embora seja entendido que raiva é às vezes difícil de controlar, eu acredito que tais manifestações são muito negativas.

1 comment:

Luciana said...

Ah, Rodrigo, preciso por em prática muito dessas suas palavras... mas está tudo tão difícil... :(