Wednesday, October 19, 2005

Impulsos

Existe sempre em nós o conflito do impulso e da moderação.

Seria perfeito poder sempre seguir o impulso imediato, levando "a vida como um rio corre para o mar, fluindo naturalmente, como deve ser." As respostas estariam assim sempre à mão, sempre claras, o próximo passo sempre fácil.

Não demora muito tempo na vida para percebermos que nem sempre dá pra ser assim. O problema é que impulsos são contraditórios, o nosso impulso de hoje anula o de ontem, nossas ações podem muito bem compor apenas uma cacofonia.

E então passamos a "pensar melhor", a buscar regras que nos ajudem a decidir que impulso é bom seguir, que impulso é bom resistir. A cultura nos dá um banho de conselhos neste sentido, eles próprios contraditórios: "a pressa é inimiga da perfeição", mas também "não deixe para amanhã o que se pode fazer hoje." Percebemos logo que tais idéias são gerais demais para serem úteis.

E passamos a construir o nosso próprio conjunto de regras. No nosso amadurecimento e pela nossa experiência, vamos coletando nossas preferências sobre quais impulsos seguir, e de quais desconfiar. Demora mais, mas também acaba-se por perceber que isso não satisfaz, pois o mesmo impulso pode ser muito útil em certos momentos e catastrófico em outros.

O que fazer então? Eis a minha atual crença sobre isto no momento: o único impulso que se deve combater é o impulso de se concluir que um impulso é bom ou ruim. Ou seja, esse é o único impulso ruim. Todos os outros, depende. A decisão passa a ser baseada não em que impulso se manifesta, mas no conhecimento total que temos de uma situação. Só trazendo a situação inteira à mente, ao invés apenas de uma parte dela gerando um impulso, é que todos os impulsos podem se apresentar, podem ser disparados pela experiência, e entre deles resolver qual a melhor direção. Não há impulso certo ou errado, e cada um deles perderá e vencerá muitas vezes. O conjunto de todos, no entanto, costuma apontar a melhor direção.

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